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Alessandro Pereira, do BRI, fala sobre sua participação no Programa para o Fortalecimento da Função Pública na América Latina, promovido pela Fundação Botín

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 Alessandro Paulino Pereira, do Bacharelado em Relações Internacionais, foi o 1º estudante da UFABC a participar do Programa de Fortalecimento da Função Pública - promovido pela Fundación Botín  - e compartilhou em detalhes a experiência dele sobre essa oportunidade única vivida em 2022 na Espanha e Colômbia. Confira o depoimento na íntegra e fique atento às futuras edições do Programa.

 

 Alessandro Paulino, aluno da UFABC.

"Cada vez que a gente conta a própria história, nos damos conta do quão importante são as vivências coletivas que tivemos.

A minha experiência na XII edição do PFFPAL, como chamamos carinhosamente o Programa, foi avassaladora. Em 2021, quando fui selecionado, tive que lidar com um contexto diferente das edições que seguem: o da pandemia de Covid-19. Esse contexto, entretanto, não impediu que a experiência pudesse me impactar tão profundamente, em especial para o que pra mim foi o mais importante: as pessoas, as nossas trocas, as histórias que nos precederam, que compartilhamos, e as que juntos nos propusemos a criar a partir de então. Fomos, naquele momento, 32 pessoas, de 15 países latino-americanos, cada qual com distintas culturas, dos mais diversos cursos universitários, de diferentes classes sociais e trajetórias, mas com um objetivo em comum: melhorar o serviço público na América Latina.

Experimentamos ao longo de 45 dias, em 2 países, afirmar nossas vocações, nos desfazer de preconceitos e aprender a ouvir, sentir e esperançar respeito e diversidade para a América Latina em que queremos viver. A impressão que eu tive, na verdade, foi de ter vivido muito mais nesse período. Fiquei maravilhado com tudo, e, em conjunto, nos sensibilizamos para as muitas coisas que queremos transformar. Quando chegamos na Espanha ficamos primeiramente confinados, cada um em um quarto da Residencia de Estudiantes, em vias de evitar possíveis contágios de Covid-19. Me arrepio de lembrar nossas primeiras conversas através das janelas, quase todas com bandeiras nacionais estendidas.

Logo após a primeira etapa de formação online, quando pudemos nos encontrar pela primeira vez, praticamente tudo o que fizemos foi num grupo de 32. Fosse na sala de aula, com debates muito ricos em variados assuntos contemplados pelo Programa, fosse ao longo das refeições em que nos sentávamos ao redor de uma única mesa, a conexão que me foi permitida com as demais pessoas participantes é incomensurável. Algo que me impactou muito dessa experiência também foi o fato de poder demonstrar afeto em contato físico frequente. Depois de tanto tempo, por já estar vacinados e sempre alertas com os cuidados, pudemos abraçar, sorrir de perto e se emocionar sem distanciamento social. Mais de um ano depois, seguimos nos falando com frequência.

Ao longo do PFFPAL, aprendi muito com cada pessoa. Cada vez que alguém levantava a mão e dizia: me chamo assim e sou de tal país, percebia o quão potente era estar representando de onde viemos nas discussões e proposições. Mais do que isso, vi brilhar nos olhos de cada pessoa o orgulho com o qual falavam de seus países e comunidades. Até o momento em que iniciamos as atividades, tudo parecia estar numa atmosfera de competitividade, porém, desde que começamos e até o último dia, sentimos isso dar espaço para a construção de amizades, de aprendizados e reafirmações em uma experiencia coletiva inigualável. A bagagem cultural que trouxe de tantos lugares e vivencias distintas é sem tamanho. Em nenhum outro lugar pude me sentir tão pertencente à América Latina e ao mesmo tempo ainda mais orgulho de ser brasileiro.

Vivi, ao longo do caminho, muitas confraternizações. Me lembro da emoção ao cantar “La Gozadera”, ou “Latinoamérica” em coro, enquanto pulávamos e sorríamos, ou nos emocionávamos olhando uns para os outros. Me lembro de dançar e de conhecer um pouco mais de cada pessoa em sua forma de se expressar. Uma coisa engraçada e que me orgulha muito foi de ter sido chamado afetuosamente de “el samba”, considerando a animação e as muitas vezes em que me expressava dançando. Aliás, o Programa dá um espaço importante para a expressão artística e para trabalharmos a criatividade. Em diversas atividades cantamos, fizemos canções, interpretamos pequenas cenas, tivemos mostra de fotografia, conhecemos museus, óperas e filmes, e também fizemos trabalhos manuais de pintura e colagem. Tive a sorte de ter colegas com muito talento de diferentes áreas das artes também.  

A língua principal do Programa é o espanhol. Como já dito, pessoas de 15 países hispanofalantes diferentes compartilhavam isso em comum. Tive poucas dificuldades para me comunicar, a maioria delas compartilhadas com meus colegas: se acostumar com a variedade de sotaques dos que estavam presentes. Em alguns momentos conversava em português com amigues brasileiros que foram junto. Isso foi essencial para recarregar as energias considerando que tínhamos cerca de 12h de atividades por dia em outro idioma. Usamos a comunicação em língua inglesa em poucos momentos, sobretudo em palestras de pessoas brasileiras.

O Programa tem como preocupação uma formação integrada, na qual eu pude aprimorar habilidades socioemocionais, conhecimentos acadêmicos, habilidades interpessoais e uma jornada de autoconhecimento. Acho importante dizer que desenvolvemos capacidades de auto-organização, já que nós compartilhamos com toda a equipe a tarefa de fazer as coisas acontecerem. Apresentei palestrantes do eixo estratégico educação, temática sobre a qual construí em grupo um projeto de inovação que foi compartilhado na nossa etapa formativa em Bogotá, na Colômbia. Também pude participar de uma simulação de gestão de crise e governo, além de atividades lúdicas e esportivas.

VIAGENS

Nós viajamos muito. Conhecemos na Espanha, além de Madrid: Santander, Ourense, Valle del Nansa, Santiago de Compostela e Salamanca. Assim, a experiência contou com muitas horas de ônibus, trilhas, noites dormidas em hotéis, acampamentos, e momentos de descanso no próprio transporte, para além das viagens de país para país. Também tivemos que atravessar juntos o cansaço, os desafios nas atividades de outdoor training, e um trecho importante do Caminho de Santiago. Andando todos iguais e sem deixar ninguém pra trás, superamos em conjunto muitos dos nossos limites.

Quando viajei à Colômbia me emocionei muito. Senti como se já tivesse construído um lugar meu também na dinâmica que vínhamos tendo na Espanha.  A etapa na Colômbia culminaria na finalização das atividades, mas não queria que terminássemos tão cedo. Assim, quis aproveitar ao máximo as belezas de Bogotá. Em contrapartida, fomos expostos a um choque de realidade muito importante para pensar nos desafios que nos esperam na nossa região no mundo. Mas também reconhecemos e ressaltamos as potencialidades das experiências possíveis e inspiradoras que temos aqui. Nesse momento também participamos da etapa de redes, etapa essa composta por trocas entre pessoas de outras edições que estiveram presentes em Bogotá. Foi uma etapa essencial, considerando que o intuito do Programa não é acabar quando as atividades finalizam.

Em Bogotá, fomos recebidos pela Universidad de Los Andes, mais especificamente pela Escuela de Gobierno. Lá, debatemos ética e serviço público, conhecemos um pouco mais da realidade local e nos aprofundamos em outra cultura muito especial. Também fizemos passeios institucionais e turísticos na cidade, experimentamos do seu dia a dia e da alegria e calor daqueles que nos receberam em todos os espaços em que estivemos presentes. A comida na Colômbia também se parecia muito mais com a nossa, e, naquele momento do Programa eu já estava sentindo falta.    

Tanto na Espanha, como na Colômbia, senti que pude aproveitar muito das perspectivas e dos conhecimentos que a formação interdisciplinar da UFABC proporciona. Mais do que 100% preparado para debater sobre tudo, estive atento e disposto a aprender sobre cada novo assunto que não conhecia, e em todos os dias nos faltava tempo para fazer jus a nossa empolgação.

CUSTOS

Um parêntese importante é o fato de que praticamente tudo é custeado pela Fundação Botín. Não recebemos dinheiro em mãos, mas, como temos atividades ao longo de todos os dias do Programa, tudo é preparado para nos receber. Gastos com alimentação, transporte para as atividades, as palestras, visitas guiadas a museus, departamentos públicos, atividades de cultura, passeios institucionais e tudo mais são cobertos. Não me faltou nada. Mesmo as passagens para os países em que ele acontece são custeadas. Os gastos que tive, nesse caso, foram: o passaporte, as vestimentas (há indicação de traje para cada atividade, além de roupas de frio já que estive em meio ao outono), gastos com lavanderia, refeições e atividades excepcionais em que pude conhecer mais das cidades e vivência por conta.   

PÓS-BOTIN, O QUE VEM AÍ?

Com a finalização da etapa formativa e das atividades da XII edição do PFFPAL, retornei ao Brasil já integrando a Rede de Servidores Públicos da América Latina, que é um grupo formado por egressos do Programa de todas as edições. Também passei a integrar a Rede Vocare, que é uma rede dos egressos brasileiros. Poucos dias do retorno, também me juntei à Diretoria Executiva do ano de 2022 da Rede Vocare. Como rede, mantemos acessa a chama de esperançar e continuar fazendo a diferença em nossas comunidades e na região. Pude me conectar com pessoas incríveis de outras edições, fazer networking e discutir a realidade brasileira ao longo de todo o ano.

No mais, integrando a Rede Vocare e a D.E. de 2022, recebi junto à amigues querides do Brasil a XIII edição do Programa no Rio de Janeiro ano passado. Fomos anfitriões da Jornada de Redes e pudemos participar ativamente da programação, compartilhando um pouco da importância de seguirmos conectados. Sou muito agradecido à UFABC, à Fundação Botín, à Rede Emancipa, a Babi, Isa e Raian que me acompanharam desde o Brasil nessa jornada, e a todas as pessoas que me incentivaram e apoiaram na vakinha para ter essa vivência. Foi a experiencia mais intensa da minha vida até o momento!

PS: criei um site/blog no qual compartilho com um pouco mais de detalhes essa tremenda jornada, e conto como foi meu processo seletivo. Lá também dispus de dicas para aprender idiomas e materiais úteis, além de uma aba com mídias e outras histórias que nos ajudam a adentrar no estudo da língua espanhola. É possível acessá-lo em sites.google.com/view/aprendendocomalesso."

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